Todo mundo sabe que
nasce uma sereia quando uma duas-pernas
olha o horizonte tocando o mar e, em câmera lenta, chora por um amor
impossível. O que ninguém sabe é que uma sereia sentada no rochedo, já sem a
sua cauda, não tem mais um lugar para voltar. No mundo dos humanos ela foi
rejeitada pelo único elo com aquele povo, o marinheiro que ela salvou do
naufrágio.
No mar, o albatroz
não a reconhece sem o furta-cor do seu antigo rabo de peixe. Suas súplicas para
a onda grande esmaga-la são em vão. Não se mata uma ilusão senão com a
brutalidade da sua verdade.
A história da
sereia não é um conto de amor. É um conto de relacionamentos abusivos, no qual
uma mulher perde todas as referências que a enraizariam na vida. Se foi
estuprada e culpabilizada por quem
deveria defendê-la, para onde ela volta? Para antes do estupro ou para falta de
um porto seguro?
Se amou e se
relacionou com alguém violento, o que ela acha que é amor? Será mesmo que
era tesão as transas depois das brigas, ou era medo? Medo de não ter mais para
onde ir dentro e fora de si?
Uma sereia e seu
rabo de peixe contam duas histórias, uma humana e outra escondida. A feiticeira
pediu sua voz em troca das pernas. “Não
conte nada a ninguém, vai destruir o casamento da sua irmã.” “Tem certeza ou tá
delirando?”. “O que você fez para atrair isso?”. “É melhor não contar nada para
ninguém, senão eu te mato”... Ou os pais ficam mudo diante dos relatos de sua filha pequena ou filho.
A história da
sereia tem outro fim se ela tem voz, tem irmãs e irmãos e tem para onde
ir.
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