11) A Jornada da Heroína em Outlander


Mas então a mulher não faz a jornada do Herói? Não, disse o Campbell. “A mulher é o que o herói aspira!”

Algumas de nós não gostamos disso e levantamos bandeiras: “Eu também faço a jornada do herói!” Outras não entenderam o aforismo, como eu, até começar a apreender seu significado. E outras estão muito bem com seu feminino, obrigada!

A mulher não faz a jornada, ela mergulha. Qualquer pessoa que leu ou viu Outlander, com a personagem principal Claire Randall Fraser ultrapassando a fronteira do tempo por uma pedra, guardiã das memórias ancestrais, terá a noção do mergulho. Ela mesma descreve a sensação: “era como se eu estivesse caindo.” Lá, onde chegou, encontrou desafios. Um dos principais foi outra feiticeira, como as irmãs gêmeas que povoam infernos nos #mitos.

Em Outlander tanto as personagens Geillis, como Lapghaire fazem o papel das bruxas. Elas representam todas as exclusões, repressões, negações que nós e nossas ancestrais jogaram no porão do esquecimento. Mergulhamos principalmente para confrontá-las e resgatar suas forças: elas são partes de nós mesmas que nunca puderam vir à tona! Outras são entidades emprestadas, que precisamos deixá-las com suas verdadeiras donas. Por isso Claire mata uma e acolhe a filha da outra.

Desafiada por todas estas aventuras ao lado do seu companheiro, quase o perde várias vezes, como nós mesmas arrebentamos nossas relações se somos tragadas pelo o que negamos. Jamie, seu parceiro, faz a Jornada do Herói ao lado dela, também cuidando para não perdê-la.

Às vezes, o que acontece com ela empurra ele para frente, e o que acontece com ele aprofunda o mergulho dela. A Jornada (Mergulho) da Heroína também leva a mulher ao homem, sem que ela ande, mas caia em si. Lá, no meio do caminho de Claire e Jamie tem uma pedra que une diferentes tempos a um mesmo espaço.

O homem é o espaço e a mulher o Tempo? A jornada é espacial e o mergulho como as ampulhetas? Eu não vejo o tempo desafiar tanto os homens como a nós mulheres. Nem vejo a Terra brigar conosco como exige deles os confrontos. Podemos ser Outlander* porque somos o próprio lar.

Se a mulher é o que busca o herói, o encontro é o que causa o mergulho. Primeiro consigo mesma, depois com o mundo inteiro. 

*Outlander - Fora-steiras, estrangeiras, fora da terra.
  Outlander – Diana Gabaldon (livros). Série Fox e Netflix

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