19) Claire de Outlander e a Mudança de Consciência



            Em algum momento da nossa vida será exigida uma troca de consciência, quando novos valores e potenciais mais afinados com o nosso desenvolvimento de alma terão que ser assumidos e outros descartados.

            Estas etapas são comunicadas, geralmente, por uma angústia sem fim, que alguns chamam de Noite Negra da Alma, ou por sonhos, visões e até por qualquer método de sondagem do futuro.

Nos sonhos e visões, o alerta de mudança pode aparecer com o ego onírico (eu no sonho) caindo num abismo sem fim, sendo atingido por um tiro mortal ou matando uma figura arquetípica solar, que representa a atual adaptação de consciência, a que estamos acostumados, mas que não serve mais ao nosso desenvolvimento.

Claire (tem spoiler), a protagonista da série de romances Outlander da Diana Gabaldon, era casada, enfermeira na Segunda Guerra Mundial e tentava, junto ao seu marido, recuperar a sua vida no pós-guerra, que é um momento histórico de crise e transformação coletiva.

Ela visita um monumento de pedras e tem uma sensação de queda, quando, ao tocar em uma delas é transportada para o passado. Ela fica confusa, como qualquer um de nós que se sente perdido/a diante da perda do velho mundo e a chegada do novo, que não sabemos o que é.

De repente, ela está no mesmo lugar, mas 200 anos antes, onde é forçada a viver numa época que não é sua, conhecer outras pessoas, valores e hábitos. Isto pode ser compreendido como viver abaixo da consciência (no inconsciente), onde se ganha novas forças para continuar a jornada de vida.  O Jung costumava dizer que precisamos recuar, como quem busca a distância para ganhar velocidade, para saltar um obstáculo e seguir em frente.

No passado, que é seu futuro, se apaixona por outro homem e tem novos desafios. Em algum momento é chamada de Dames Blanche, ou a dama Branca, que tem a ver com as deusas guardiãs pré-cristãs que transformavam as pessoas em animais se elas não se curvassem para deusa na entrada de casa. Ser transformado em um animal no portal do psiquismo, um dos significados de casa, simbolicamente falando, pode ser compreendido como ser lançado no inconsciente para ter acesso às atitudes ainda não desenvolvidas, animalescas, dentro da gente. Ou seja, se não somos conscientes do inconsciente, somos como animais.

Portando, Branca significa ter consciência da sua potência e estar alinhado/a com a realidade e a guiança da alma. Tem relação com a clareza (Claire) adquirida na jornada e não tem qualquer relação com discriminação racial ou de bem ou mal.  

Quando retorna à sua vida atual, já não consegue mais se adaptar nem amar o antigo marido, embora o tivesse amado de verdade. É como se ele representasse a velha consciência que não serve mais para ela. Não é à toa que caímos em angústia, como ela, lutando por dois amores: a vida anterior e a nova, até morrermos antes de morrer e aceitarmos o convite do que nos Guia.  Ficamos como que estrangeiros, Outlander, na velha vida.

Tudo isso me faz lembrar do Hellinger, criador das Constelações Familiares, dizendo que não é suficiente dizer “eu te amo”, é preciso acrescentar algo mais: “Eu te amo e amo Aquilo que te Guia. ”




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