“Eu estou Ok,
você está Ok” é uma
posição existencial estabelecida na infância, descoberta por Eric Berne. Ela
atua em transações nas quais me sinto bem comigo e com os outros e o entorno.
Também atua “legitimando o totalmente outro como legítimo outro na
convivência”. O Biólogo Humberto Maturana descreve assim o amor.
No filme “Vitória e Abdul[i]”, de
Stephen Frears, 2017, (Netflix), temos um exemplo de uma personagem “eu
sou ok, você é ok”. Mesmo humilhado, mantém esta postura dos vencedores. Às
vezes, porém, nos sentimos “não ok”, sendo o outro “Ok” (eu não estou ok, você é ok). Nesta horas pensamos: “Como aquele
homem/mulher pode me amar?” Pode ser que
a outra pessoa goste deste jogo porque ela está na postura “você não está
ok, eu estou ok”. Ou passe a acreditar que não somos ok. Pais, mães,
professores “Eu estou ok, você não está
ok” fazem uma criança crescer pensando que ela não é ok ou, ela também se
torna “eu sou ok, você não é ok.”
Existe ainda os que não se sentem ok e ninguém é ok (eu não estou ok, você não está ok). Não
teve modelos de “oqueidade” para se sentir ok e reconhecer o ok no mundo.
Todas estas posições existenciais alternam-se nas relações com os
outros. Ainda bem que crescemos e buscamos ajuda para nos sentirmos ok e
acharmos os outros também ok. Mas, o que acontece na terapia quando
descobrimos tudo de “errado” que a mamãe ou o papai ou o cônjuge fez, ou deixou
de fazer, com a gente? Primeiro é um alívio nos libertarmos de relações
difíceis. Depois aceitamos a humanidade de todos, aprendendo que ninguém nasceu
para atender as nossas expectativas. E, sem perceber, invertemos a balança: “eu
sou ok e a minha mãe, pai, amigos, parceiros não são ok”.
Conseguimos uma parte da cura: “Eu sou ok, afinal!”, mas a mamãe,
papai, esposo/a e até o filho/a, patrão e amigos passam a não ser ok.
Enquanto não assumimos, verdadeiramente, a postura “eu
sou ok, você é ok” dentro da gente, vamos ficar nesta gangorra: nos
sentindo inferior diante de alguém (ou pedindo para sermos humilhados no “eu
não estou ok, você está ok”) ou superior (ou humilhando no “eu estou ok, você
não está ok”). Ou ainda nos jogamos na lona, sem saída, no “eu não estou ok,
você não está ok”.
Dá próxima vez que os pais, cônjuges, amigos oferecerem uma destas
transações gangorra, agradecemos a oportunidade de treinar “eu estou ok, você
está ok”, para poder vivenciar novas respostas e relações criadas com eles. Só
não funciona muito explicar as transações na hora do desconforto, porque
possivelmente cairemos no “eu sou ok e você não ok”. Então, se alguém disser,
“você é toda errada”, diga “você é a certa para mim”.
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