Em “O Leitor", de Bernhard Schlink, a Alemanha antes da
Segunda Guerra encontra a Alemanha depois dela nos personagens Hanna e Michael,
respectivamente.
A bela e misteriosa trabalhadora pede para o estudante ler para
ela depois de salvá-lo e, futuramente, iniciá-lo sexualmente.
(Tem spoiler) Um dia ela desaparece deixando o rapaz desolado.
Muitos anos se passam até Michael, agora estudante de direito, reencontrá-la como ré num julgamento sobre os crimes da II Guerra.
Ao final do julgamento, o jovem descobre um segredo sobre a
amante, que ela mesmo não revela para o Tribunal. Se o fizesse
conseguiria se libertar de muitas acusações. Hanna prefere guardá-lo, como
todas as pessoas e nações que preferem ser vistos como criminosos ou maus do
que mostrar sua falha trágica.
Todos nós temos uma falha trágica por onde o destino nos toma a
seu serviço. A mesma ferida que faz a gente escolher algumas ações e,
consequentemente vivenciar suas reações, que também dá à alma uma plataforma de
aprendizado para a nossa evolução.
Depois de anos, Michael, um advogado respeitado, envia áudios
gravados da leitura dos livros para sua antiga amante na prisão.
A educação da velha mulher continua, não apenas lendo, mas
conseguindo aprender a pensar e refletir sobre a realidade. Chega um momento em
que a Hanna de outrora se transforma na Hanna capaz de avaliar e tomar
decisões, de ser protagonista da história e não mais ser a bucha de canhão da
mente coletiva.
Ela desaparece novamente, desta vez deixando uma compensação, ao
mesmo tempo em que permanece vítima de sua falha trágica. Seu sumiço, portanto,
simboliza que não há como apagar o que fez, nem mudar o que a levou a fazer
aquilo, mas há como criar compensações. Michael, como ela, também
precisava do encontro com seu passado para poder seguir em frente.
Da mesma maneira nosso presente busca reconciliação com os tropeços
do passado, sem ficar julgando nossos erros, mas por causa deles. Sem apagar a história,
mas aprendendo com ela, sem apenas tomar consciência, mas saindo das acusações
em direção à solução. E isso só acontece porque assumimos responsabilidade pelo
que aconteceu e incluímos o que antes tínhamos aversão. Como o amor de Michael incluiu
o que nem Hanna conseguiu acolher.
Nesta Constelação familiar sobre a Guerra Japão e China, conduzida por Bert Hellinger, vivenciamos o amor que inclui.
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Já escrevi outro texto sobre o mesmo filme e livro aqui
Foto - The Reader, Hanna e Michael (Kate Winslat e
David Kross)
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